"O homem aproximou-se do espinheiro. Ergueu a mão para tocá-lo e um 'ai' de dor brotou de sus lábios. Um rubi de sangue brilhou no seu dedo.
O homem limpou o sangue e disse, fitando o espinheiro:
- Eu te perdoo!
Admirei e louvei dentro de mim aquele homem que possuía o doce dom de perdoar.
E aconteceu que veio outro homem. Parou junto ao espinheiro, ergueu a mão para tocá-lo, e o espinho o picou. Mas o homem limpou em silêncio a ferida, contemplou com amor o espinheiro, e não disse nada!
Tive então este pensamento:
'O primeiro homem era um santo: Sabia perdoar!
Este outro não sabe!'
Mas o meu Senhor, interrompendo a minha cisma, disse:
- Quem não sabe é você!
- Como, Senhor? Então aquele homem...
- Sim, é um santo porque perdoou quando foi preciso!
- E o segundo?
- É mais santo ainda, porque não tem necessidade de perdoar.
E como eu fiquei perplexo, com o olhar perdido na incompreensão e na dúvida, o Senhor me disse:
- O espinheiro fere porque é espinheiro. Ainda que ele quisesse, jamais poderia perfurar. O primeiro homem sentiu a dor da picada, e como não sabia nada, atribuiu a culpa ao espinheiro. Mas, como era puro de coração, perdoou.
E continuou:
- O outro homem sentiu a mesma dor, mas como sabia que todo espinheiro fere, pois o espinheiro é assim, não se sentiu ofendido. E como nada tinha a perdoar, não perdoou.
Desde então, sofro menos quando os espinhos me ferem. Dói-me na alma a ferida, mas minha alma sabe que não há ofensa. E como não há ofensa, não há perdão.
É assim que do meu peito brota um piedoso amor pelo espinho que não chegou a ser flor. Meu sofrimento se transforma em ternura porque já aprendi a não perdoar...
Desconheço autoria.
Retirando da Revista Histórias para viver feliz
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